Você já se viu preso em uma situação complicada no cartório em que uma conversa é necessária, mas é uma situação muito desafiadora? Você sabe que precisa conversar, seja com o seu colega, seja com o seu chefe, seja com o seu funcionário, mas não quer estragar o clima do Natal, ou qualquer outra data importante para a pessoa ou para você mesmo: aniversário, férias, festas de final de ano – ou pior, está postergando por medo mesmo.
O fato é que o clima está péssimo e algo precisa ser feito. É sobre esse clima que me refiro, a conversa difícil – uma conversa complicada, desconfortável mesmo, pois te deixa com borboletas na barriga toda a vez que você lembra que precisa resolver a situação.
Uma conversa difícil pode ser uma avaliação de desempenho, a resolução de um conflito, uma demissão, um feedback sobre discriminação no local de trabalho, assédio, comportamentos inadequados, dilemas éticos ou até mesmo falar com o chefe sobre o seu excesso de trabalho.
Nosso primeiro instinto é evitar ter essas conversas difíceis e esperar que se resolvam sozinha. Mas eu te garanto e digo isso por experiência própria: só tende a piorar, até porque postergá-la não fará com que a situação desapareça e, pela sua procrastinação, o problema pode dobrar ou se repetir e aí você está envolvido emocionalmente com o caso. Se você não resolveu e a situação se repetiu, você passa a ter responsabilidade no caso, já pensou nisso?
Vou te dar um exemplo: uma funcionária estava fazendo de tudo para ser demitida no cartório. O titular não queria demitir pois ela estava fazendo birra e todos estavam assistindo a situação perplexos. Parecia um cabo de guerra. Ele não queria pagar a rescisão, pois daria a entender que todo mundo que quisesse sair poderia repetir o péssimo comportamento da garota e ele iria assumir todos os encargos. Ele tem uma certa razão. Mas essa situação seguiu silenciosa e ele tolerando todas as péssimas atitudes da menina por muito tempo e uma panela de pressão se instalou.
Todos os líderes cobraram um posicionamento, pois o clima na equipe estava insustentável: ela não só faltava e se atrasava, como falava mal de todo mundo e era grosseira com os clientes. Era um verdadeiro climão e o titular não soltava a corda e não permitia a demissão, mas também não falava com ela e não abria espaço para uma conversa entre os líderes e um advogado trabalhista para ver quais seriam as opções. Ele simplesmente estava tão bravo que não queria falar sobre o assunto com ninguém: era sempre um agora não!
Um belo dia, depois da reclamação de um cliente importante, ele decidiu demiti-la, mas disse que esperaria as festas de final de ano passarem e… surpresa: ela voltou do ano novo muito grávida. Aquilo que antes era apenas uma demissão, virou uma rescisão muito cara, pois envolveria multa ou tudo aquilo que ele vinha tolerando se estenderia por 9 meses, mais a licença maternidade.
O que ele poderia ter feito de diferente:
Poderia ter consultado um advogado trabalhista logo que a situação ficou tensa. Poderia ter conversado com os líderes sobre as suas razões e tratado a situação imediatamente. Ele poderia ter se preparado para uma conversa franca com a funcionária, propondo um acordo que não expusesse a situação no nível que se expôs.
Conversas difíceis ajudam a garantir que o trabalho esteja no caminho certo, resolvem ou atenuam problemas e, principalmente, contribuem para um clima organizacional positivo.
A maioria dos funcionários e até mesmo os líderes evitam conversas difíceis porque não sabem como lidar com determinadas situações. Ficam esperando a hora certa, mas a hora certa é sempre o mais rápido possível. Muitas vezes, quando a gente perde, a gente ganha e aquele titular pagou caro para ver. Tenho certeza de que a ex-funcionária também, pois suas atitudes da época foram a sua colheita ali na frente.
Mas como identificar o momento certo para ter conversas difíceis no trabalho?
Na minha opinião, devemos tratar assuntos difíceis na mesma hora em que acontecem. Mas, às vezes, esse “na hora” é difícil porque estamos com a cabeça quente e impactados emocionalmente. Então vamos reformular: trata-se assuntos difíceis na primeira hora em que você não está mais bravo com a situação e que conseguirá falar de forma respeitosa e clara com a outra pessoa.
Chame a pessoa para uma conversa. Comece dizendo que a intenção da conversa é positiva e que você espera que os dois saiam melhores do que entraram naquela sala e com uma solução que vise sempre o melhor para a instituição.
Diga que é importante falarem sobre o que aconteceu para que não se repita mais e porque a situação foi negativa para o trabalho (aí você explica em que aspectos).
Ah! Se o assunto for relacionado ao seu excesso de trabalho, tem um vídeo no Youtube que te orienta como falar com o seu chefe que você está sobrecarregado.
Você já sabe, mas não custa lembrar: Evitar ou esperar muito tempo por uma conversa difícil pode piorar o problema. Portanto, prepare-se e mergulhe na conversa. Então te trago algumas dicas preciosas para você enfrentar as conversas difíceis e par que vocês saiam bem deste processo.
- Priorize a privacidade: Escolha um ambiente privado para garantir a confidencialidade e incentivar a comunicação aberta sem medo de julgamento ou constrangimento. Evite dar feedback negativo na frente de outras pessoas ou em locais onde possam ouvir. Tente agendar a conversa com antecedência para que ninguém seja pego de surpresa.
- Avalie o impacto:Avalie a gravidade da situação e suas possíveis consequências. Anote o que for preciso e não tem vergonha alguma dizer que você anotou, pois não queria esquecer nada diante de uma conversa difícil onde os dois estão claramente nervosos.
- Considere as emoções:Preste atenção a sinais como frustração, tensão ou evitação. Isso pode indicar problemas subjacentes que precisam ser tratados. Preste atenção na sua expressão corporal. Descruze os braços e incline-se para a frente em direção ao seu interlocutor. Se a conversa difícil for uma demissão, tudo bem chorar. Aliás, se a conversa difícil for um feedback, tudo bem chorar. Não tenha vergonha de sentir e de demonstrar sua emoção. Isso vale tanto para o líder, quanto para o funcionário.
- O assunto é sobre vocês:Nunca traga outras pessoas para a conversa. Não dê exemplo de outras pessoas na conversa em questão. Evite comparações: Não compare colegas no ambiente de trabalho.
- Busque orientação:Se não conseguir dar esse passo, peça apoio de um supervisor ou colega, principalmente, se o assunto envolver algum tipo de assédio, traga outro membro do sexo oposto para apoiá-lo na conversa.
- Planeje: Antes de começar a conversa, tenha um objetivo claro e faça uma lista com os pontos a serem discutidos.
- Seja honesto: Admita quando estiver errado e dê aos outros o benefício da dúvida. Você não precisa ter razão. Você precisa sair com uma conciliação.
- Ouça atentamente: Não apenas ouça, mas tente entender a perspectiva da outra pessoa. Não fique interrompendo. Ouça tudo e quando a outra parte parar de falar, você retoma. Faça anotações, se necessário para o seu momento de falar.
- Não presuma: Não presuma que a outra pessoa tem intenções de magoar ou chatear. Nada é pessoal. Todos têm um ponto de vista e nenhum ponto de vista é igual. Se vocês não chegarem a nenhuma conclusão também está tudo bem.
- Se o assunto for uma demissão: vá direto ao assunto. Você está aqui porque eu preciso demitir você. Respire fundo e retome. Repasse todas os motivos da rescisão que conflitam com os valores do cartório. Ouça a outra parte sem interrupções. Lamente por não ter dado certo e deseje sorte nos próximos empregos.
Falar, botar ponto final nas feridas para que elas curem, encerrar ciclos, mostrar o que não está legal no comportamento do colega ou funcionário: se a intenção for positiva, você precisa agir!
Mas lembre-se: não queira chegar à conclusão de que você tinha razão, pois isso fará com que uma nova discussão se inicie. Você não precisa convencer o outro da sua verdade e nem ele precisa te convencer da verdade dele. Procurem apenas um acordo. O que vocês precisam é sair desta conversa com um combinado sobre o que farão diante da situação ou conflito. O objetivo é saírem da conversa com um acordo: qual será a sua parte no processo e qual será a do seu colega ou líder.
Finalize sempre perguntando se tem alguma coisa que você disse que precisaria reformular, pois sua intenção é o caminho da harmonia. Peça desculpas pela sua parte, se for necessário. Sigam em frente com a vida.